Pagar para usar um produto ao invés de comprá-lo está se tornando a realidade de diversos setores e tem tudo para ser a prática dominante para a imensa maioria do mercado e para qualquer tipo de produto.
A posse será substituída pelo serviço prestado pelos produtos e as vantagens deste modelo de negócios são inúmeras e em diversas fronteiras:
- Para os consumidores que poderão despender recursos apenas o necessário para o que usam.
- Para a empresas que poderão gerar receitas por recorrência
- Para o meio ambiente que terá menos descartes para entulhar a natureza
Servitização é o nome que se dá à prática de transformar a oferta de produtos para a oferta de serviços dos produtos e a cada dia vem sendo adotada em mais setores da economia. De fato, nos ditos países desenvolvidos hoje mais de 70% das empresas manufatureiras já experimentaram e estão implementado ofertas de serviço (1).
Os modelos de negócios em servitização vão muito além do aluguel de equipamentos e/ou produtos, incorporando um conjunto de serviços adicionais que visam atender às demandas dos clientes com uma integração que oferece todo o apoio quanto às estratégias de uso dos produtos, as metodologias para ganhos de eficiência na realização dos serviços e o suporte às manutenções.
Quando se contrata um serviço dentro dos conceitos de servitização, o cliente pode focar em seu core business e usar as máquinas e equipamentos da maneira mais eficiente e sem a necessidade de investir tempo, dinheiro e competências próprias para ter sua infraestrutura em funcionamento.
- O Philips pay per lux (2) é um serviço onde os clientes não compram mais as lâmpadas, mas contratam o serviço de iluminação da gigante holandesa e pagam por luz consumida, medida em lux.
- A MUD Jeans (3) oferece um serviço de leasing de calças jeans dentro da proposta da economia circular, onde o produto é devolvido quando o consumidor não o deseja mais ou está velho para ser totalmente reciclado pelo próprio fabricante.

Modelo de leasing da MUD Jeans
- A Bundles (4) , da Holanda, oferece máquinas de lavar roupa a serem instaladas nas casas dos clientes que pagarão apenas por seu uso, medido em lavagens.

- A Rolls-Royce PLC (5) tem o programa TotalCare (TM) onde seus clientes, formados por grandes empresas aéreas, pagam por manutenção dos motores das aeronaves apenas pela quantidade de milhas voadas
A tendência é o crescimento da oferta de serviços em todas os setores e no Brasil não será diferente. Esta semana vimos a fusão da Localiza e da Unidas, as duas maiores empresas do setor de locação de automóveis do país, para formar uma gigante com poder de fogo para tornar a locação de carros mais interessante que a compra por parte de consumidores pessoa física. Neste setor aliás já temos a estruturação de uma locadora por parte da Toyota, maior fabricante do mundo.
A visão estratégica é que os negócios estão mudando de lâmpadas para serviço de iluminação, de calças para serviço de vestimenta, de máquinas de lavar para serviço doméstico de lavagem, de motores de avião para milhas voadas, de automóveis para mobilidade.
A introdução da servitização é parte da nova lógica oriunda da economia circular e o design de produtos não está apenas ligado à inovação, mas a um conceito mais específico: o closed loop innovation, que preconiza a inovação sempre com o foco na circularidade dos produtos ou seja: em seu contínuo aproveitamento ou completo reaproveitamento dos materiais no seu final de vida.

Veja na figura acima um exemplo de closed loop innovation para um produto como uma furadeira.
Servitização e sua carreira
- Como está se comportando o setor onde você trabalha?
- Você consegue enxergar estas mudanças chegando?
- Você está pronto para as mudanças que esta nova lógica vai exigir de sua formação?
Tenha em mente que este fenômeno não será uma moda passageira, mas um caminho que necessariamente o mundo todo vai trilhar pela busca da sobrevivência das empresas e, mais importante, do planeta. Fique atento e se prepare para fazer parte do mundo da servitização.
Referências
1 – LAURENT PROBST, LAURENT FRIDERES, BENOÎT CAMBIER, PWC LUXEMBOURG & SARAH LIDÉ, PwC Sweden. Business Innovation Observatory: Servitisation. [S. l.], p. 1–15, 2016.
2 – https://www.innovationservices.philips.com/news/philips-transition-linear-circular-economy
4 – https://bundles.nl/en/rent-washing-machine-the-netherlands/
5 – LAY, Gunter. Servitization in industry. [S. l.]: Springer International Publishing, 2014. v. 9783319069357E-book. Disponível em: https://doi.org/10.1007/978-3-319-06935-7