Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação (FAO), mais de seiscentos milhões de toneladas de alimentos são perdidos anualmente no transporte e manuseio. A maneira como alimentos são acondicionados determina de maneira significativa seu aproveitamento na cadeia logística.
600.000.000 de toneladas de alimento são jogadas no lixo por ano.
Ao mesmo tempo é fato que uma peça de carne embalada em um filme plásticos tem sua shelf life em torno de 26 dias. Sem este tipo de embalagem a durabilidade seria de poucas horas. Vegetais embrulhados em filmes plásticos estirados (stretched films) ganham durabilidade de vários dias, sem este tipo de embalagem se deterioram entre 24 e 48 horas.
Para citar um exemplo vamos analisar o ciclo de vida de um pepino.

Quando este fruto é embalado em uma simples película de meros dois gramas de plástico sua durabilidade na prateleira de um supermercado chega a onze dias. Ao mesmo tempo as emissões de carbono relativas à produção deste pedaço de plástico que conserva o pepino representam menos de 10% do total de CO2 gerado para produzir e entregar o vegetal nos supermercados. Será que o plástico é mesmo o vilão?
O plástico que embrulha o pepino representa apenas 10% do CO2 total para produzir e entregar o vegetal nas prateleiras.
PEGADA DE CARBONO, CUIDADO COM OS CÁLCULOS
A estimativa para o cálculo da pegada de carbono é proporcional à massa de um material, desta forma a densidade é um fator importante. Como o plástico é um material forte, leve e pode ser estirado para gerar filmes muito finos, tem cerca da metade da densidade do vidro e aproximadamente a mesma densidade que o papel. O resultado é que a pegada de CO2 do plástico é na verdade muito pequena e quando se compara as emissões de CO2 criadas na produção de plástico vs. vidro ou vs. papel, a relação de emissões de plástico é na verdade mais favorável.
Por ter baixa densidade, a pegada de carbono dos plásticos é menor do que às do vidro, dos metais e mesmo do papel.
Com base em cálculos que consideram toda a cadeia de produção, distribuição e reaproveitamento dos materiais há estudos que demonstram que se proibíssemos todas as embalagens de plástico e usássemos apenas papel, vidro e metal, a quantidade de materiais e energia necessários para embalar nossos alimentos se multiplicaria e a quantidade de emissões de CO2 gerada seria cerca de 3 vezes maior!
Resumo da ópera. Se a conta da pegada de carbono é o ponto a ser considerado, então os plásticos já saem em vantagem ao papel, ao vidro e aos metais logo de cara. Mas não fica só nisso.
MAIS OUTRAS VANTAGENS DOS PLÁSTICOS
Além de vencer a briga pela pegada de carbono, os plásticos têm vantagens em suas caraterísticas de processamento que os tornam mais fáceis de moldar em formatos complexos, não quebram ou trincam com facilidade e também permitem fabricar embalagens mais difíceis de amassar. Este conjunto de características gera uma enorme vantagem de custo e aproveitamento de materiais nos processos de embalamento e facilidades logísticas consideráveis.
COM TANTAS VANTAGENS, POR QUE O PLÁSTICOS É O VILÃO
Os problemas começam justamente em duas vantagens que se voltam contra os plásticos.
1- Os plásticos são muito estáveis, ou seja, são duráveis quando isso é necessário, mas esta caraterística gera um dos seus maiores problemas, sua reabsorção pela natureza é extremamente demorada. Quando descartados de maneira errada ficam poluindo e incomodando por muitos anos. Metais, papel e vidros são muito mais facilmente reintegrados à natureza.
2- A baixa densidade é uma vantagem pois gera produtos e embalagens mais leves, mas quando chega a hora da coleta seletiva para reciclagem os plásticos são volumosos e com baixo peso, o que demanda grandes volumes para pouca massa de material a ser reciclado, resultado: pouco dinheiro para a cadeia logística reversa.
Justamente por serem leves e duráveis, os plásticos podem também aparecer como vilões do meio ambiente.
Além disso os plásticos, em sua maioria, boiam e acabam aparecendo mais como poluidores das águas. Latinhas e vidro afundam e não são tão visíveis nas águas dos oceanos, rios e lagos.
Olhando os fatos expostos fica relativamente simples notar que a eliminação dos plásticos como materiais de embalagens não é uma boa solução para ganhos ambientais, mas ao mesmo tempo alguma coisa precisa ser feita para que a coleta e reciclagem sejam incentivadas e se tornem economicamente mais interessantes.
POLÍTICAS PÚBLICAS
A solução para muitos problemas ambientais passa pela adoção de políticas públicas que fomentem práticas das empresas e do mercado consumidor na busca por soluções ambientais que afligem a todos.
Olhando a união europeia temos dois exemplos de como as coisas podem ser bem diferentes. A Alemanha coleta e recicla em torno de 95% das garrafas PET utilizadas em seu mercado, enquanto a Bulgária apenas 24%. No Brasil nosso número está em torno de 55%. As razões estão em educação da população e cobrança dos governos junto aos produtores.
Para citar um exemplo de ação governamental vejamos o caso do Reino Unido onde foi aprovada uma legislação que determina que a partir de abril de 2022 haverá um imposto de duzentas libras esterlinas (£200) por tonelada de embalagem plástica que não tenha no mínimo 30% de material reciclado.
Segundo estudos do Fundo Mundial para a Natureza (WWF) o Brasil produz mais de onze milhões de toneladas de lixo plásticos por ano. Se a obrigatoriedade do Reino Unido para 2022 for aplicada por aqui falaremos de um imposto na ordem de bilhões de reais. Dinheiro demais para ir para o lixo e mais do que suficiente para fomentar o desenvolvimento tecnológico e a cadeia de reciclagem no país.
Da mesma maneira que foi aprovada uma resolução do CONAMA para a destinação dos pneus inservíveis, uma política pública que coloque responsabilidade na cadeia do plástico será um dos possíveis caminhos para atingirmos patamares de reciclagem elevados que retirem os plásticos dos lixões e aterros e os leve para o reaproveitamento.
O MELHOR DOS MUNDOS
Usar os plásticos com todas as suas vantagens de peso, moldabilildade, custo, preservação dos produtos e ainda conseguir utilizá-los por muitos ciclos através de reciclagem vai gerar muitos empregos, renda e agregado tecnológico para todo um vasto setor industrial. Vai ainda colaborar de maneira significativa para redução da emissão de gases de efeito estufa.
Redução de custos e da pegada de carbono, é disto que estamos falando quando se busca a solução para o uso criterioso dos plásticos, seu descarte e reaproveito adequado.
O setor do plástico precisa mostrar seu valor e saber apresentar aos ambientalistas que o material é uma solução para a pegada de carbono e pode ser um grande amigo do meio ambiente, além de um aliado no combate à fome. Não é possível deixar a guerra de narrativas ser vencida por discursos raivosos e sem embasamento técnico devido. Porém esta tem sido a realidade da discussão ambiental na mídia de massa e na cabeça de alguns “educadores”.
Não é possível deixar a guerra de narrativas ser vencida por discursos raivosos e sem embasamento técnico devido
Para iniciar um caminho que leve os plásticos ao seu lugar de amigo e não de vilão da natureza a questão não é inventar a roda, mas de colocá-la para girar com a informação e os incentivos certos. Talvez impostos também.
#reciclagem #economiacircular #plasticos #sustentabilidade