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PARA MUDAR DE CARREIRA

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Carreira – substantivo feminino

1. estrada estreita; caminho;

2. qualquer profissão, especialmente a que oferece oportunidades de progresso ou em que há promoção hierárquica;

3. corrida veloz;

4. lugar em que se assenta a embarcação durante sua construção ou no qual se colocam outras embarcações para reparos.

Carreira é muito mais do que entendemos para nossas profissões. É, antes de tudo, uma estrada, um caminho e até mesmo o suporte para se apoiar embarcações para os reparos. Aliás, gosto muito desta última definição pois a nossa carreira é onde deveríamos buscar o suporte para nossas realizações na vida. Porém, nem sempre temos a sorte de acertar nas escolhas e a carreira pode deixar de ser um suporte e eventualmente se tornar insuportável. Por isto que estamos aqui, para buscar reparar este caminho e achar um novo que seja mais agradável, ou mais rentável, ou qualquer outra coisa que nos faça mais felizes e realizados.

Reparos na sua carreira que podem, em grande medida, levar a reparos na sua vida, afinal nossas carreiras acabam ocupando um lugar de destaque para as realizações pessoais. Uma carreira é algo dinâmico, que deve ser vista não como uma corrida para ver quem chega antes ao sucesso ou ao ponto mais alto. Mais importante que o destino é o caminho, que deve ser agradável e propiciar aprendizado e crescimento em qualquer velocidade que se ande.

Caminhos não são necessariamente únicos, na verdade há uma infinidade de possibilidades que podem nos levar a destinos semelhantes ou completamente diferentes daquele que planejamos. O importante é que não estamos presos a uma única opção, ao contrário, podemos mudar nas inúmeras bifurcações que a vida nos apresenta com relativa frequência. O ponto é saber para onde se deseja ir e ter a coragem e/ou as possibilidades para mudar.

Quando se inicia a carreira profissional estamos dando os primeiros passos em um caminho cujo final não temos ideia de qual será. Apenas sonhos e expectativas. Os anos vão se passando e alguns destes sonhos podem se realizar, mas outros tantos acabam se esvaindo e ficam apenas as lembranças, quando muito.

Sonhos deixados de lado nem sempre é algo ruim, afinal poderiam não ser realizáveis ou nem serem tão bons quanto o imaginado. Porém, em muitas das vezes fica aquele gosto amargo de algo não realizado ou não atingido que poderá insistir em ficar em nossas lembranças, como que a nos seguir e sussurrando em nossos ouvidos o quanto não realizamos nesta vida.

Sonhos não atingidos não significam derrotas, mas a saudável possibilidade de mudança de foco ou o estabelecimento de objetivos mais realistas. Nós mudamos com o tempo, na medida em que ganhamos maturidade e vamos experimentando dissabores e derrotas, mas também ocorrem aquelas vitórias tão esperadas e, por vezes, as não esperadas que podem mostrar alternativas do caminho que nunca foram consideradas.

Alternativas é palavra-chave para podermos perseguir sonhos e realização profissional. Elas são as variantes que podemos usar em nossas vidas, na busca por nosso lugar no mundo do trabalho e daí nossa realização pessoal. Não basta existir alternativas como as inúmeras esquinas de uma avenida, pois se quisermos experimentar todas as possibilidades não chegaremos a lugar algum e, por outro lado, se não nos permitimos dobrar algumas das esquinas de nossas carreiras, para ver onde nos levam, vamos seguir sempre o mesmo caminho.

Seguir pelo mesmo caminho não significa que seja algo ruim, longe disso, mas se não estamos contentes com o trajeto é quase uma obrigação tentar mudar. Fazer as coisas sempre do mesmo jeito muito provavelmente dará sempre no mesmo resultado. Mudar o caminho é a forma para buscar outros resultados que poderão ser bons ou não, mas que sempre nos ensinarão algo para nosso crescimento pessoal e profissional.

Neste livro eu falo sobre estas mudanças que alguns de nós encaram, ou porque desejamos ou porque precisamos ou pelos dois motivos. Eu mesmo já me vi, em mais de uma ocasião, na enorme vontade de mudar de caminho. Escolhi estudar engenharia mecânica porque adorava carros, mas no meu primeiro estágio notei que a indústria automobilística não era meu lugar. Escolhi o caminho de continuar na universidade buscando um doutorado para trabalhar em uma área que me parecia superinteressante: engenharia biomédica. Gostei do assunto e acabei por iniciar como professor na escola técnica da Unicamp. Em paralelo à carreira de professor procurei as alternativas da vida empreendedora, o que me deu a oportunidade de perceber que eu precisava aprender sobre negócios. Deste aprendizado mudei meu foco novamente e me voltei para o marketing e, posteriormente, para a área de desenvolvimento de produtos. Do gosto por automóveis, passei pela engenharia aplicada à medicina e acabei me descobrindo em marketing e desenvolvimento de produtos, que nada tinham a ver com minha graduação ou com a pós-graduação. Fui experimentando dobrar algumas esquinas da minha carreira e conhecendo as alternativas.

Meus parâmetros para avaliar o sucesso na carreira por muito tempo estiveram ligados à remuneração, status e prazer no que se faz, nessa ordem. A vida me ensinou, porém, que esta não era a melhor ordem de prioridades para mim e fui mudando minhas expectativas e aprendendo a buscar realização em outros pontos além dos três que citei e em graus de importância diferentes. As variáveis que influenciam a satisfação de cada um com seu trabalho são de foro íntimo e não há solução comum a todos. A busca pela realização, porém, pode ser sistematizada para permitir que possamos experimentar e descobrir o que mais nos realiza.

A insatisfação com a carreira pode se dar por motivos válidos e que merecem muita atenção, mas também pode se dar por erros de concepção e expectativas que não se resolvem a não ser quando se faz uma revisão de vida, colocando as coisas nos seus devidos lugares. Eu diria que um dos grandes problemas que todos podemos carregar é ter uma visão míope com nossa atividade profissional, de maneira a afetar a forma como enxergamos carreira, trabalho e vida. Aliás, se houve uma leitura que me ajudou a entender melhor este caminho foi justamente um artigo acadêmico de marketing que se tornou um dos mais importantes já publicados: “Miopia em marketing”, do professor de Harvard, Theodore Levitt .[1] Este artigo mostra como empresas cometem erros ao focar em demasia nos seus produtos em vez de olhar com cuidado as funções que o produto entrega, ou seja, as razões pelas quais os consumidores adquirem os produtos ou serviços. Fazendo o paralelo com carreiras, um erro que chega a ser grotesco é dar importância exagerada ao cargo que se ocupa em vez da atividade que se pratica.

Pessoalmente, a mudança na forma de encarar minha carreira veio quando entendi que minha atividade como professor ia muito além dos conteúdos técnicos que me cabiam nas aulas que ministrava. Tive muita sorte por trabalhar com pessoas vindas de estratos sociais muito diferentes nos vários níveis em que atuo na docência. Alunos do ensino técnico de nível médio, de graduação (em instituições privadas e na universidade pública) e profissionais de mercado em meus cursos na pós-graduação e nos diversos treinamentos in company em que atuei.

As inúmeras possibilidades de ouvir experiências dos diversos alunos que tive nestes quase 30 anos de docência e as orientações que me eram solicitadas tiveram um peso significativo na minha jornada para o desenvolvimento da metodologia que apresento neste livro. Apliquei esta metodologia com diversos alunos e profissionais que me buscaram ao longo deste tempo para aconselhamento e mudança de carreira.

Esta variedade de condições em que pude atuar profissionalmente me ajudou muito a entender as diferentes demandas em função de situações de vida tão díspares. Tive a oportunidade de enxergar também os anseios, angústias e expectativas comuns a todos os estratos sociais e níveis educacionais com os quais trabalhei. Há um lugar comum nas expectativas de carreira, mesmo quando olhamos profissionais com origens tão diversas. A altura da montanha que cada um deseja escalar não é a mesma, mas a expectativa de conseguir superar uma subida íngreme é sempre bem parecida.

Mudar o caminho é o ponto principal que desejo tratar com você e mostra que existem ferramentas para nos ajudar a enxergar alternativas, entender como se encaixam em nossas características pessoais e a partir disso poder fazer as mudanças com riscos administrados.

O progresso deste livro se dá apoiado em alguns conceitos usados em marketing e na área de desenvolvimento de produtos, considerando que a carreira é o resultado do esforço feito no crescimento de capacidades profissionais, em semelhança ao que se pratica no processo de criação ou melhoria de produtos dentro das organizações.

Pense em um produto de consumo como um automóvel e avalie como montadoras focam em torná-los adequados aos desejos do mercado, pesquisando seus consumidores com o objetivo de incorporar características que os tornem mais interessantes que os da concorrência. O processo de crescimento profissional se apoia em uma linha de raciocínio semelhante, na medida em que pessoas buscam deixar seus currículos mais atrativos ao mercado e se diferenciarem para obter as melhores oportunidades de trabalho.

O objetivo deste livro é ajudá-lo a enxergar opções para mudar sua carreira ou novas formas de ver a que você tem, mas sempre com o foco na busca da realização. Vamos usar de algumas metodologias simples para permitir enxergar com clareza o que pode ser mais interessante nas opções que se apresentem para uma nova jornada profissional. As ferramentas que apresento têm como diferencial a simplicidade e o ajudarão muito a destrinchar as atividades de uma profissão, de tal forma que você possa enxergar com clareza como as opções de novas carreiras se ajustariam nas suas características pessoais e nas suas expectativas.

O ponto mais importante que desejo apresentar é que mudar de carreira é sim possível e achar um caminho que o faça mais realizado é plenamente alcançável. Perceba que eu não disse um caminho que o faça plenamente feliz, mas que o faça mais realizado. Não posso dizer que será super fácil, mas também não será o bicho de sete cabeças que hoje pode parecer. Não será sem riscos, mas não envolverá arriscar sua subsistência. Não será instantâneo, mas não poderá demorar uma vida toda. Vamos trabalhar com conceitos práticos e ferramentas lógicas para que você teste suas opções e verifique aquelas que melhor se adaptam para sua vida e sua maneira de trabalhar.

Trata-se de uma viagem que terá início lá no dia em que você escolheu a faculdade ou o curso profissionalizante que fez, vai passar por seus momentos bons e ruins, pelo dia de hoje e de como poderá ser o momento em que você esteja trabalhando mais feliz e que os domingos à noite não sejam deprimentes.

Vamos começar?

[1] LEVITT, Theodore. Miopia em marketing. Disponível em: http://www.producao.ufrgs.br/arquivos/disciplinas/403_1960_havard_business.pdf


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