Quando a BBC, emissora de televisão estatal do Reino Unido, produziu e apresentou o documentário Blue Planet II, seu famoso, e cheio de títulos da nobreza, apresentador David Attenborough fez questão de mostrar as mazelas geradas no meio ambiente pelo acúmulo dos plásticos.
Blue Planet II foi um marco importante para mostrar a que ponto estamos chegando com a contaminação dos oceanos e como isto afeta a vida de todos nós, seja na degradação ambiental, seja em nossa comida.
Com base na lógica de que o problema são os materiais plásticos, uma legião de ONG`s e ambientalistas tem feito um trabalho consistente no sentido de banir estes materiais do mundo. Porém não há vida e nem vontade própria em um mero canudinho de plástico para que ele vá atrás das tartarugas marinhas e as mate.
As moléculas dos plásticos não são serpentes que saem andando por vontade própria em direção aos mares.
O problema começa nas mãos dos seres humanos e vai terminar nas mãos dos seres humanos. Simples assim.
Resolver os problemas ambientais é muito mais do que eleger um grande culpado e sair batendo sem antes olharmos como a cadeia toda funciona. Será mesmo que se eliminarmos os materiais plásticos teremos um ganho ambiental?
Respondo logo de cara e sem rodeios. NÃO!
Um estudo detalhado feito pelo American Chemistry Council (ACC)[1] apresenta números interessantes sobre os impactos da substituição dos plásticos por outros materiais que possam exercer funções semelhantes. Por exemplo, trocar as garrafas de PET por vidro ou alumínio. Dentre vários pontos relevantes que o relatório do ACC apresenta vou me concentrar neste artigo apenas na questão do incremento de peso e suas consequências para o meio ambiente.
QUANTO MAIS SE TIRA O PLÁSTICO MAIS PESADO FICA
Em engenharia falamos constantemente da chamada relação de compromisso, que nada mais é do que a velha máxima de que não se pode ter tudo. Se ganhamos em um lado, é preciso assumir algumas perdas ou desvantagens de outro. A vida é assim para tudo ou quase tudo, e por isto mesmo já deveríamos estar acostumados com a ideia de que não é nada fácil achar a tal solução ótima, onde só há ganhos. Na verdade, temos até uma velha expressão popular que diz: “o ótimo é inimigo do bom”.
Uma dentre tantas características positivas dos materiais plásticos é a sua baixa densidade, que se traduz em produtos leves e práticos para o uso. Leveza é um fator fundamental para um sem-número de aplicações com as quais lidamos no dia a dia. Imagine o seu celular pesando mais do que o dobro ou seu laptop te doendo nas costas cada vez que precisar levá-lo para onde for. Como seriam suas compras de supermercado se todos os produtos fossem embalados em outros materiais que pesassem três, cinco ou até dez vezes mais? Estas grandezas de aumento de peso não são mera especulação, são simplesmente baseadas nas médias das densidades de diversos materiais concorrentes com os plásticos: vidro, aço, alumínio e mesmo diferentes tipos de papel e papelão.
Comodidade de ter produtos mais leves não é o ponto que desejo chamar atenção, se fosse este o problema não vejo por que não poderíamos fazer um pouco mais de força e até o treino da academia enquanto carregássemos produtos mais pesados. O ponto fundamental no caso de produtos mais pesados é ambiental. Carros mais pesados, caminhões mais carregados para levar a mesma quantidade de produtos, sistemas logísticos que precisariam ser redimensionados e vários aspectos que acabariam por impactar o meio ambiente.
A relatório do ACC apresenta para alguns tipos de produtos uma tabela com dois diferentes cenários : “usando os plásticos como fazemos hoje” e “substituindo os plásticos por materiais compatíveis tecnicamente: vidro, aços, alumínio e papel”.
Para os dois cenários a tabela mostra quanto tem em peso de plásticos em cada milhão de dólares em um determinado tipo de produto e quanto tem em peso de plásticos para embalagens necessárias para este mesmo milhão de dólares em produto. A mesma coisa é apresentada no cenário sem plásticos, considerando quanto tem em peso de materiais alternativos e embalagens para cada milhão de dólares.
Explicando com um exemplo, a tabela mostra que um milhão de dólares em “artigos esportivos”, por exemplo, tem 10,6 toneladas de plástico no produto e 3,6 toneladas de plástico nas embalagens. Se os plásticos forem substituídos por materiais alternativos, haverá 35,8 toneladas de material alternativo no produto e 9,1 toneladas nas embalagens.
Fiz a tradução da tabela e a apresento abaixo. Observando cada um dos diferentes tipos de produtos analisados nota-se que TODOS FICAM MUITO MAIS PESADOS SE OS PLÁSTICOS FOREM SUBSTITUÍDOS POR OUTROS MATERIAIS.
As variações dos pesos são dramáticas e podem ser visualizadas no gráfico a seguir.

MAIS PESADO MAIS GÁSES DE EFEITO ESTUFA
O peso não é só um mero indicador de conforto, mas fundamentalmente produtos mais pesados tem um impacto gigantesco na geração de danos ambientais. Carros mais pesados gastam mais combustível e poluem muito mais. Caminhões, trens, navios e aviões terão que levar muito mais peso para transportar os produtos, gastando muito mais e levando menos produtos. Menos produtos transportados por viagem vão gerar a necessidade de mais viagens e mais gastos e poluição. Peso é proporciona à impacto ambiental.
Quanto mais pesados os produtos, mais combustível se gasta e mais gases de efeito estufa são gerados para seu uso ou transporte
A PERGUNTA QUE NÃO QUER CALAR
Será que o caminho é mesmo tirar os plásticos do mundo?
Observando pelo ponto de vista do peso e da geração de gases do efeito estufa, a resposta é não. Quando são feitos os cálculos sobre os custos ambientais gerados pelo peso adicional os valores são assustadores, afinal há um preço para o estrago feito no meio ambiente e que todos nós vamos pagar. Vou tratar disso no meu próximo artigo aqui no LinkedIn.
A outra pergunta que fica é: como resolver então a contaminação que está aí para quem quiser ver? Afinal, temos que conviver com os mares cheios de plásticos matando a fauna marinha? Nem precisa pensar muito para responder um sonoro não também.
Mas então, como resolver o imbróglio? Se usamos os plásticos eles podem ficar como resíduos por muito tempo, se não usarmos os produtos ficam muito mais pesados e geramos mais gases de efeito estufa. Para obter esta resposta, agora precisamos pensar muito. Uma coisa é certa, não é propondo a solução “fácil” de pôr a culpa em um só material e bani-lo da face da terra. Problemas ambientais são complexos e envolvem muitos fatores, por isto mesmo não há soluções fáceis.
Me desculpe Sir David Attenborough, mas o senhor se precipitou.
Referências
[1] R. Lord, “Plastics and Sustainability: A Valuation of Environmental Benefits, Costs and Opportunities for Continous Improvement,” 2016. [Online]. Available: https://plastics.americanchemistry.com/Plastics-and-Sustainability.pdf.
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